Ela observava-o, e a ele isso agradava – porque não se limitava a observar passivamente. Calmamente, ele ia procurando os desejos, os toques, as formas que a enlouqueceriam. Decidiu-se acima de tudo a dar-lhe prazer. A dança decorria sem pressas, ambos descobrindo-se mutuamente num prazer que não procurava amanhãs nem porquês.
Como num sonho em que se acorda a meio porque se tem de ir beber água, ela foi atender o telefone que tocava (pelos vistos, de forma insistente). Mas, tal como tantas vezes desejamos quando o sonho é bom, ela voltou e o sonho retomou-se no ponto onde se tinha interrompido. E assim ela se veio, de forma algo discreta, mas com um sorriso extasiante (e extasiado). E ele sorriu, contente pelo orgasmo dela.
Esquiva, ela nada prometeu. E ele, ficou com a única resposta que poderia ouvir naquele momento.
Antes que começasse a pensar se aquele seria o último momento em que estavam juntos, ele vestiu-se e tentou começar a pensar imediatamente no que tinha para fazer em seguida.
Despediram-se com um “até logo” (aliás, dois, um de cada), que de certa forma ajudou-o a não pensar na hipótese daquela ser a derradeira despedida.
Já na rua, decidiu-se a pensar principalmente nas coisas que tinha combinadas. Mas sabia que aqueles momentos tinham deixado uma marca indelével. “Será esta a sensação de viver o momento apenas pelo momento, sem misturar passados e futuros?”