"Queres partilhar as tuas madrugadas comigo?
Partilhá-las ou sê-las?
Recriá-las, sê-las;
reconhecer no outro a premência de cada madrugada.
Quero as tuas madrugadas,
os céus hesitantes,
os instantes prementes,
os momentos decisivos.
Diz-me a noite com a ponta da língua,
escreve-a a saliva nos meus lábios vaginais,
deixa-me vê-la pelo terceiro olho do meu corpo.
É precisamente a apologia do hedonismo que escrevo.
E é novamente a apologia do hedonismo que me devolves,
enquanto te contorces, molhada,
a cada palavra que os meus lábios
desenham no meio das tuas pernas.
(...)
A forma como abres o teu corpo,
como o magnetizas para que eu caia dentro de ti,
torna-te herética no mundo
e imbuída de divindade no espaço sagrado
do movimento do meu corpo no teu.
(...)
E o movimento das tuas ancas,
quando te abandonas à cegueira líquida da minha saliva,
reescreve cada ponto,
cada vírgula,
cada traço de desejo
de exaustão
e sempre
de recomeço...
O interior da palavra é uma vulva
que cospe quando lhe tocas.
Adoro a forma como tocas as palavras...
faz-me pensar nas tuas mãos,
na forma como tocam na tua boca,
na forma como toca,
na forma como a tua saliva se estende pelo corpo.
E, uma vez mais, a imagem de quando abres as pernas
e há uma história de prazer, luxúria e hedonismo
que a minha boca escreve no meio de ti.
Quero-te! Nua, contra uma parede.
Meter-me dentro de ti. Ter-te."
Texto original de gastriv