Thursday, September 11

Could it be a love story? I – He

Pic by achfoo

Dois olhares que se tocaram


I


He


Ele estava nervoso. Mas não tanto como esperaria. Estaria mais insensível? Estaria mais equilibrado? Ou seria pura dopagem?

Ela chegou visivelmente nervosa. Muito. Ele decidiu então que teria de ser o contrabalanço, para que o encontro não fosse um foco de ansiedade e não se viesse a saldar numa absoluta frustração. Afinal, o que tinha ele a perder? Bem, para começar, a oportunidade de conhecer alguém que se poderia vir a revelar especial. Depois... bem, quanto ao resto tudo era incerto, pelo que decidiu apostar na continuidade do desafio.

Quando viu as mãos (extremamente) trémulas dela, que acendia um cigarro após outro, pensou na regra de ouro para lidar com pessoas nervosas: não dizer "tem calma!".

Os planos do almoço passavam pela sua mente, mas já não com a ansiedade com que há algum tempo antecipava todo e qualquer momento que fosse viver. Aliás, foi com a maior das tranquilidades que alterou o local onde iam almoçar: impetuosamente, decidiu o Meco. O Atlântico e o sol seriam companheiros ideais para este encontro.

O sorriso dela ao ver a praia revelou-lhe que ele tinha feito uma boa escolha. Sentiu-se orgulhoso, para além de um prazer imenso que o invadiu ao ver aquele sorriso.

Tinha-o impressionado ver as costas perfeitas dela logo que chegou perto dele e as expôs ao seu olhar perscrutante. Mas o sorriso dela desarmou-o e fê-lo derreter-se um pouco por dentro.

Num caminho mais íngreme, ela prontamente aceitou a mão dele para a apoiar. Mais um momento que teria despertado mil e duas sirenes há um tempo atrás na cabeça dele, mas que agora encarou com uma tranquilidade surpreendente.

Um almoço partilhado, regado a cerveja (ela com aquela coisa chamada Green… bleargh…) e digerido com a ajuda de uns cigarros — ela continuava a fumar nervosamente, mas a mão estava substancialmente menos trémula.

– Vamos conhecer outra praia?

Ele pensava na praia de Alfarim, num copo no Bar do Peixe. Mas, mais uma vez numa decisão totalmente impetuosa, decidiu ir matar saudades da praia micro-ondas.

“Só por alguns momentos, pois com aqueles saltos, ela não vai conseguir ir até ao areal”, pensou ele.

Surpresa! Foi ela mesmo a tomar a iniciativa, e mais uma vez a aceitar a mão dele que se propunha ajudá-la a superar aquele caminho íngreme.

O pôr-do-sol começava a desenhar-se no horizonte, belo como só o Meco pode oferecer. Pela cabeça, passaram-lhe as dezenas de ocasos já por ele presenciados naquelas praias. Já tinha acompanhado aquele mesmo sol para além daquela mesma linha do horizonte com lágrimas, com sorrisos, com gargalhadas, com músicas, com silêncios, com solidão, com companhia. Agora, ei-lo de volta ao país que amava, a uma praia que o encantava, com um pôr-do-sol que sempre o fascinou. Mas desta vez, com uma companhia que o surpreendia não só pela pessoa que era, mas também pela pessoa que o fazia ser.

A ondulação e a subida da maré quase os obrigou a agarrarem-se para caminharem lado a lado. Não pareceu uma obrigação, mas apenas um corolário para os momentos de magia que aconteceram antes, quando ambos trocavam nada mais que palavras.

Ele sentiu o chamado “momento da verdade” quando se sentaram nas rochas a apreciar o mar e a despedirem-se do sol desse dia. Queria beijá-la, mas — como sempre — não sabia como fazê-lo. Calou-se, evitando o seu customeiro hábito de dizer coisas estúpidas nestas situações. Ela, inquieta, parecia compreender que os movimentos corporais dele eram de desejo de proximidade do corpo dela. E conscientemente, o seu corpo anuiu ao pedido que ele fazia calado. Um beijo na face esquerda. O arrepio na espinha quase o toldou, mas decidiu responder com um braço em volta dela. E as bocas uniram-se, da forma que se avizinhava já como inevitável.

Os beijos dela eram doces, suaves, e a sua boca acolhia-o como se os lábios e a língua dele fossem já há muito esperados.

O sol, impassível, deslocava-se para terras mais ocidentais, enquanto eles procuravam o norte de um e de outro, com toques subtis que se misturavam, quase não permitindo ver quais os que agradavam mais a um e a outro.

E aí, mesmo no escuro que tinha ocupado o lugar do sol, ela ofereceu-lhe mais um daqueles sorrisos arrasadores. Ele sorriu também.

[Lu Romero]


>>> To be continued...

7 comments:

coraline said...

continua muito bom :)

Å®t Øf £övë said...

Nogs,
Curioso como esta perspectiva vista pelo outro lado consegue ser tão consensual com a perspectiva dela. Isto só demonstra que estavam em prefeita sintonia, e isso pode signifar o ínicio de um longo e eterno amor.
Beijinhos.

Salto-Alto said...

Adorei! :)

Já te disse antes, mas tens um jeitaço para estes textos!LINDO!

Beijo!

Peach said...

Pelo que li... só pode ser uma grande história de amor :)

beijo

PavlovDoorman said...

O Lu Romero é um sortudo... E a menina uma graça por tão bem decifrar os sentimentos ocultos.

Beijinho

Oliver Pickwick said...

Romance e suspense. Ansiei por um final feliz.
Um beijo!

inv3rs0 said...

Lu[x]O Romero?? ahahahaha